Deixou a festa dos mortos e suas caveiras, o sombrero, o chilli e o mexicano com quem fumou haxixe e se equilibrou na linha da fronteira para trás. Monterrey, Guadalajara e Cidade do México virou projeto de futuro,
Agora
estava chegando no norte do Alasca, iria pisar em gelo
sentiu calafrios
tinha diante de si uma nova paisagem: um horizonte límpido e enormes geleiras
nessa ordem aparetemente sem caos,
sem grandes arranha céus e caminhões,
sem o seu americam way life,
que ficou pra trás, no coração do Colorado depois das brigas ciumentas no Arizona,
estava outra vez só
só em uma cidade gelada
só com as suas crenças e a sua identidade dilúida
só e ao mesmo tempo acompanhada do cientista brasileiro que a contratou com Ghost Writer no Colorado,
contrato que prolongou a sua temporada por aqui
e a trouxe para esse pedaço do território americano não incluído no seu roteiro de viagem
e muito menos imaginado ou sonhado por seu cérebro febril e obsceno.
Seu nariz dilatado sentiu cheiro de mar e de peixe
cheiro predominante do lugar
tremendo de frio
viu o sol brilhando dentro do helicóptero que pousou em uma base americana onde militares ouviam Rolling Stones enquanto jogavam baseball com casacos pesados em um campo sem grama.
Entusiasmou-se!
Tinha fetiche por fardas e botinões.
Em dois dias de estadia já tinha um novo amante
com quem se enroscava debaixo de 4 cobertores.
Depois de duas semanas já fazia confidências e revelações
se apaixonou
ele apertou carinhosamente o seu corpo fofo no uniforme militar condecorado e pediu ordenando: fica
tossiu, engasgando o seu inglês
Merd
intrigada e em dúvida
no cubículo do banheiro público
sentada na privada
repetiu baixinhi pra ele não ouvir como um mantra e em francês
merd
não poderia ficar
e nem queria
Nenhuma impureza no branco da paissagem,
nenhum barraco, nenhum negro, nenhum terreiro,
nenhum campinho de várzea, calor dos sertões e lembrança da bahia
saturada
foi para capela da base militar
praticou o seu sincretismo religioso
no altar
frente a frente com um santo desconhecido
ajoelhou
mas apelou para São Judas Tadeu
com uma oração inventada.
Confusa
teve uma visão
a velha protestante do meio oeste, mãe do seu amercian way life,
apareceu, intrusa, colada no vitral da capela sorrindo maldosamente
alucinação?
decifrou o enigma
a mae
com suas rezas e seu coração conservador republicano
tirou dela o seu loiro caipira do meio oeste americano
Clamou tímida pelo paraíso perdido
enquanto o santo estátua olhava sem censura para sua cara de herculana
seu sangue ferveu de raiva, ruborizando suas bochechas no local sagrado
ainda ajoelhada, sua bunda rebolou,
distraída, quase derrubou o castiçal onde uma vela ficava eternamente acesa aos pés do santo estátua
com um ardor queimando o corpo por dentro e por fora
abandonou a a capela e oração não terminada
e foi pra fora esfria-lo nas ruas brancas
não ficaria aqui
diria não ao sim
não queria nem viver, nem morrer sempre vestida com pesados casados e debaixo de 4 cobertores
e muito menos viver insatisfeita, em uma guerra fria,
destilando seu veneno sem remédio contra os exóticos nativos, os ursos polares e as enormes baleias.
terminaria os trabalhos como ghost writter
faltava mais algumas semanas frias
depois pegaria os dolares
e partiria
Aliviada com a decisão
caminhou estrangeira sem ser percebida pisando em neve
pediu para exu abrir os seus caminhos
cantou
um ponto de candomblé baixinho na cadência da bossa nova
suavemente baixinho,
sem atabaques
sem banquinho
sem violão
cantou.
Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou
Em nome de Jesus um grande amor você jurou
Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou
Pra mim você mentiu
Pra Deus você pecou
O coração tem razões que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras, depois esquece
Seguindo este princípio você também prometeu
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu